Não era um caso de “Davi contra Golias”, mas passava um pouco perto disso. O Uruguai sem o capitão Lugano, o jovem Lodeiro e o artilheiro-goleiro Luisito Suaréz enfrentou de igual para igual a badalada seleção holandesa recheada de astros como Arjen Robben, Wesley Sneijder (parece nome de artista hollywoodiano!) e Van Persie.
O técnico Oscar Tabárez foi obrigado a mudar o esquema de jogo e entrou em campo apenas com dois atacantes, já que durante todo o torneio atuou com três atacantes. E ainda dizem que o futebol moderno só pode ser refém da retranca! Os uruguaios exerceram uma forte marcação na saída de bola, o que deixou a equipe holandesa nervosa nos primeiros minutos de jogo.
A marcação desde a saída de bola foi um recurso utilizado pelas seleções americanas neste mundial, com exceção para Argentina e Brasil que deixavam o adversário jogar sem ser pressionado. Uruguai, Paraguai, Chile e até o México se fechavam na defesa, mas começavam a marcar com os atacantes e homens de criação do meio-campo. Não se tratava apenas de uma retranca, com chutões para frente, a estratégia era roubar a Jabulani perto do gol adversário.
Os uruguaios fizeram um primeiro tempo impecável e o gol de Van Bronckhorst, aos 18 minutos de jogo, foi um presente dos céus para os holandeses que não conseguiam criar nada no ataque. Gol não, golaço com aço, aço! Um chute maravilhoso e com rara felicidade que acordou a coruja da trave esquerda de Muslera.
Quando tudo indicava que o Uruguai iria para o vestiário em desvantagem, o que seria injusto, a estrela do craque Diego Forlán brilhou forte no Green Point. Aos 41 minutos, após boa troca de passes do ataque uruguaio, Forlán dominou com a canhota e soltou uma bomba de fora da aérea. Defensável, mas o goleirão Stekelenburg foi enganado pelas idas e vindas da bola e falhou no lance. Tudo igual no fim do primeiro tempo.
O Uruguai manteve a forte pegada durante quinze minutos, mas aos poucos a Holanda conseguiu avançar suas linhas e encurralou o time de Tabárez no campo defensivo. Dessa pressão surgiu o gol que decidiria a partida. Aos 25 minutos, Sneijder recebeu dentro da área, chutou fraco, a bola resvalou em dois zagueiros e Van Persie, completamente impedido, tentou dar um cutucão e desviar para o gol, ele erra a Jabulani, mas é o suficiente para enganar o goleiro Muslera que pula atrasado no lance. A bola ainda bate na trave antes de entrar.
Todos olharam para o bandeirinha, até as câmeras da transmissão da Fifa, mas o sujeito correu da responsabilidade e foi direto para o meio de campo. Não adiantou a reclamação dos uruguaios. Gol irregular, completamente irregular. Mas como será o futebol no Uzbequistão?
O lance desestabilizou a seleção uruguaia e bastou um momento de desatenção para o prejuízo ser definitivo. Bola levantada na área e Robben, sem ser incomodado, cabeceia no canto direito de Muslera. Outra vez a Jabulani beija a trave e entra. Sorte em excesso para os holandeses. O relógio marca 28 minutos do segundo tempo e o placar: Uruguai 1 x 3 Holanda.
Oscar Tabárez resolve lançar o amuleto El Loco Abreu para tentar salvar a nação uruguaia, mas o craque Diego Forlán, sobrecarregado com a dupla função de armar as jogadas e ainda ter que concluir a gol, se arrasta em campo e é substituído por Fernandez. Tudo acabado para o Uruguai? A Holanda se prepara para dar uma goleada? Nada disso.
O Uruguai não se abate, sufoca a Holanda e consegue diminuir, já nos acréscimos, com Maxi Pereira, em jogada ensaiada de cobrança de falta. Nova falha do goleiro Stekelenburg e displicência dos zagueiros holandeses. A soberba pode custar caro ao time de Bert Van Marwijk na grande decisão da Copa do Mundo 2010.
Os uruguaios mantiveram a bola dentro da área holandesa até o apito final do arbitro queridinho da Fifa, Ravshan Irmatov, do Uzbequistão. Irmatov já trabalhou em cinco jogos neste mundial e foi fundamental para a vitória holandesa.
A seleção uruguaia precisa recolher os cacos e juntar forças para vencer a disputa pelo terceiro lugar. Voltar para Montevidéu com a medalha de bronze da Copa do Mundo é um justo prêmio ao talento de Diego Forlán e pode indicar um renascimento de uma das primeiras potências do futebol mundial.
Ficha técnica:
Uruguai 2 X 3 Holanda
Uruguai: Muslera, Maxi Pereira, Godín, Victorino e Cáceres; Perez, Arévalo Rios, Gargano e Álvaro Pereira (Loco Abreu); Forlán (Fernández) e Cavani.
Técnico: Oscar Tabárez
Holanda: Stekelenburg, Boulahrouz, Heitinga, Mathijsen e Van Bronckhorst; Van Bommel, De Zeeuw (Van der Vaart), Robben (Elia), Sneijder e Kuyt; Van Persie
Técnico: Bert Van Marwijk
Gols do Uruguai: Forlán, aos 41 minutos do primeiro tempo, e Maxi Pereira, aos 47 da etapa final
Gols da Holanda: Van Bronckhorst, aos 18 minutos iniciais. Sneijder, aos 25, e Robben, aos 28 minutos do segundo tempo
Estádio: Green Point, na Cidade do Cabo / Público: 62.479
Data/hora: 06/07/2010 – 15h30m (de Brasília)
Árbitro: Ravshan Irmatov (Uzbequistão)
Auxiliares: Rafael Ilyasov (Uzbequistão) e Bakhadyr Kochkarov (Cazaquistão)
Cartão Amarelo: Maxi Pereira, Caceres (URU), Sneijder, Boulahrouz (HOL)